A presente Norma deve aplicar-se à intervenção pré-hospitalar, cuidados hospitalares, hospitalização domiciliária, cuidados domiciliários, ambulatório, cuidados de saúde primários, unidades de internamento de cuidados continuados e unidades de cuidados paliativos.
Deve ser adotado o modelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a Higiene das Mãos do qual constam:
- Os “5 Momentos” para a Higiene das Mãos” (Anexo II, Quadro 1):
- Antes do contacto com o doente (Categoria IB);
- Antes de um procedimento limpo/assético (Categoria IB);
- Após risco de exposição a fluidos orgânicos, secreções, excreções, membranas mucosas, pele não intacta ou penso (Categoria IA);
- Após o contacto com o doente (Categoria IB);
- Após o contacto com objetos e equipamento do ambiente envolvente do doente (Categoria IB).
- A Higiene das Mãos deve ter como referência os 5 momentos e quando não é possível definir o ambiente envolvente do doente, devem ser implementados “os 4 momentos”:
- Antes do contacto com o doente (Categoria IB);
- Antes de procedimentos limpos ou assépticos (Categoria IB;
- Após risco de exposição a fluidos orgânicos (Categoria IA);
- Após contacto com o doente (Categoria IB).
- Outras indicações para a Higiene das Mãos:
- Quando as mãos estão visivelmente sujas ou contaminadas com sangue ou outros fluidos orgânicos (Categoria IB);
- Antes da preparação e administração de fármacos e manipulação de dispositivos médicos (Categoria IB);
- Antes da manipulação e/ou preparação de alimentos (Categoria IB);
- Antes da colocação de luvas: o uso de luvas não dispensa a Higiene das Mãos (Categoria IB);
- Imediatamente após remoção de luvas estéreis (Categoria II), ou remoção de luvas não estéreis (Categoria IB);
- Preparação pré-cirúrgica das mãos;
- Após utilização das instalações sanitárias (Categoria II).
Medidas gerais de Higiene das Mãos:
- Higienizar as mãos preferencialmente por fricção com solução antissética de base alcoólica (SABA) no local de prestação de cuidados quando as mãos estão visivelmente limpas (Categoria IA);
- Usar mangas curtas ou enrolar/dobrar as mangas do uniforme para cima (Categoria II);
- Remover a joalharia (incluindo o relógio) e adornos das mãos e antebraços antes de iniciar o dia ou turno de trabalho (Categoria II);
- Não usar unhas artificiais (tudo o que não é unha natural) ou outro tipo de extensores nos cuidados diretos aos doentes (Categoria IA);
- Manter as unhas naturais, curtas e limpas Categoria II);
- Não usar verniz, gel, gelinho ou outros produtos nas unhas na prestação de cuidados de saúde (Categoria II);
- Usar técnica oclusiva com pensos impermeáveis nas feridas ou abrasões de pele (Categoria II);
- Aplicar SABA (Categoria IA) ou sabão (Categoria IB) de acordo com o definido na presente Norma;
- Friccionar as mãos respeitando a técnica, os tempos de contacto e as áreas a abranger de acordo com os procedimentos a efetuar;
- Ter atenção especial aos espaços interdigitais, polpas dos dedos, dedo polegar e punho (Categoria IB);
- Secar bem as mãos (Categoria IB);
- Não usar de forma simultânea ou sequencial, uma solução antissética aquosa ou sabão antimicrobiano, seguido de SABA (Categoria II);
- Hidratar a pele, no mínimo 2 a 3 vezes por turno (usar creme dermoprotetor apropriado) (Categoria II);
- Na presença de sinais ou suspeita de doenças cutâneas de provável causa profissionald, consultar o serviço de segurança e saúde do trabalho, cuja confirmação positiva é de declaração obrigatória para o Departamento de Proteção Contra os Riscos Profissionais do Instituto de Segurança Social, IP.
Técnicas de Higiene das Mãos:
- Com água e sabão:
- Molhar as mãos em água à temperatura corporal (Categoria II);
- Aplicar a quantidade de sabão suficiente para cobrir ambas as mãos em todas as suas superfícies e os punhos (Categoria II);
- Friccionar as mãos vigorosamente durante no mínimo 15 segundos (Categoria II);
- Enxaguar bem as mãos (Categoria II);
- Não tocar na torneira após Higiene das Mãos (usar um toalhete de papel para fechar a torneira de acionamento manual) (Categoria IB);
- Secar bem as mãos com toalhete de uso único (Categoria IB);
- Depositar os toalhetes usados em contentor de acionamento por pedal (Categoria II);
- A duração do procedimento deve ser entre 40 a 60 segundos (Categoria II).
- Por fricção com SABA:
- Não usar SABA nas mãos visivelmente sujas (incluindo o pó de luvas) (Categoria IB);
- Seguir as instruções do fabricante quanto aos tempos de aplicação da SABA (Categoria II);
- Aplicar a quantidade suficiente de SABA para cobrir ambas as mãos em todas as suas superfícies e punhos (Categoria IB);
- Friccionar as mãos vigorosamente entre 20 a 30 segundos, até evaporar completamente a SABA, garantindo a secagem das mãos (Categoria IB).
Preparação pré-cirúrgica das mãos:
- Devem ser implementadas as seguintes medidas gerais:
- Retirar joias e adornos das mãos e antebraços, incluindo anéis, braceletes e relógio antes de iniciar o dia ou turno de trabalho (Categoria II);
- Uso proibido de unhas artificiais ou extensores em bloco operatório (Categoria IA);
- Quando as mãos estão visivelmente sujas, lavar primeiro com água e sabão antes de iniciar a preparação pré-cirúrgica das mãos (Categoria II);
- A preparação pré-cirúrgica das mãos pode ser efetuada com SABAf ou com água e um sabão antimicrobiano (Categoria IB);
- Não usar de forma simultânea ou sequencial sabão antimicrobiano e SABA (Categoria II);
- Friccionar as mãos respeitando a técnica, os tempos de contacto e as áreas a abranger de acordo com os procedimentos a efetuar e indicação do fabricante (Categoria IB);
- Ter atenção especial aos espaços interdigitais, polpas dos dedos, dedo polegar, punho e antebraços (Categoria IB);
- Secar com toalhete no caso de utilizar água e sabão (Categoria IB);
- Após Higiene das Mãos, evitar nova contaminação, usando torneira de comando acionado por pedal ou cotovelo ou sistema de encerramento automático (Categoria IB);
- Não está indicado o uso escovas na preparação pré-cirúrgica das mãos (Categoria IB).
- Técnica de preparação pré-cirúrgica das mãos com SABA:
- Antes da primeira cirurgia do dia, limpar a sujidade dos leitos ungueais com um estilete de unhas, sob água corrente e sabão com pH neutro e não usar escova (Categoria IB);
- Utilizar SABA friccionando as mãos e antebraços (Categoria IB);
- Seguir as instruções do fabricante quanto aos tempos de aplicação do produto (Categoria IB);
- Usar a quantidade de produto de forma a manter as mãos e antebraços húmidos com SABA, até 5 cm acima do cotovelo, durante o procedimento (Categoria IB);
- Friccionar mãos e antebraços, primeiro, um braço, seguido do outro (dedos, mãos e antebraços devem ser vistos como tendo 4 lados e cada um dos lados deve ser friccionado (uma mão fricciona a outra, dando especial atenção aos espaços interdigitais e polegar, aos punhos e antebraços) (Categoria IB);
- Após a fricção com SABA, garantir que as mãos e antebraços ficam bem secos antes de calçar as luvas esterilizadas (Categoria IB).
OU
- Técnica de preparação pré-cirúrgica das mãos com água e sabão antimicrobiano (Categoria IB):
- Molhar as mãos e antebraços com água à temperatura corporal e envolvê-los com cerca de 5 ml de sabão antimicrobiano, cobrir toda a superfície das mãos, antebraços e até 5 cm acima do cotovelo, friccionando para uma melhor eficácia;
- Friccionar mãos e antebraços: primeiro, um dos braços, seguido do outro (dedos, mãos e antebraços devem ser vistos como tendo 4 lados e cada um destes lados deve ser bem friccionado, uma mão fricciona a outra, dando especial atenção aos espaços interdigitais e polegar);
- Remover a quantidade de sabão antimicrobiano sob água corrente;
- Repetir a técnica: friccionar ambos os braços com sabão antimicrobiano até 5 cm acima do cotovelo;
- Proceder à remoção total do sabão antimicrobiano sob água corrente;
- Após antissepsia, secar as mãos e os antebraços com toalhete estéril descartável, um para cada braço, no sentido distal-proximal, garantindo que as mãos e antebraços ficam bem secos antes de calçar as luvas esterilizadas.
As unidades de saúde, através dos GCL-PPCIRA, devem definir uma política local de produtos utilizados na Higiene das Mãos, integrada na política de uso de antisséticos e desinfetantes, em articulação com os serviços farmacêuticos, o serviço de segurança e saúde do trabalho o serviço de aprovisionamento, entre outros.
Produtos para a Higiene das Mãos (Anexo III, Quadros 1 e 2):
- Usar sempre SABA (Categoria IA), exceto nas seguintes situações, em que a Higiene das Mãos deve ser efetuada com água e sabão:
- Quando as mãos estão visivelmente sujas (Categoria IB);
- Prestação de cuidados de saúde a doentes com suspeita ou confirmação de infeção por Clostridium difficile (Categoria IB);
- Prestação de cuidados a doentes com suspeita ou confirmação de exposição a material potencialmente contaminado com Bacillus anthracis (Categoria IA);
- Deve ser verificada a conformidade da SABA com as especificações nacionais para os biocidas, tendo em atenção o seu espetro de ação (Categoria II):
- A concentração de álcool na SABA (etanol, isopropanol ou npropanol) não deve ser inferior a 70% em soluções de gel e espuma e entre 60% a 80% em soluções líquidas (Categoria IB);
- Os profissionais de saúde devem ter acesso direto às fichas de segurança e de utilização de todos os produtos usados na unidade de saúde (Categoria II);
- Devem ser disponibilizados aos profissionais de saúde produtos de Higiene das Mãos eficazes e com menor risco de irritação da pele (Categoria IB);
- A seleção de produtos de Higiene das Mãos e de hidratação da pele, incluindo os respetivos dispensadores e doseadores deve ser baseada em:
- Tipo de procedimento a efetuar (Categoria II);
- Espetro de ação e ação rápida e persistente e para a preparação pré-cirúrgica das mãos deve ser o mais amplo possível contra bactérias e fungos, devendo o sabão antimicrobiano ter ação residual (Categoria IB);
- Determinação de eventual interação entre produtos de Higiene das Mãos e cremes hidratantes para as mãos e os tipos de luvas utilizadas (Categoria II);
- Obtenção de informação junto do fabricante sobre:
- Interação entre produtos como SABA e cremes hidratantes (Categoria IB);
- Risco de contaminação dos produtos para Higiene de Mãos (Categoria IB).
- Garantir que os produtos para Higiene das Mãos (SABA e sabão) estão acessíveis nos locais de prestação de cuidados (Categoria IB);
- Garantir que os dispensadores e doseadores funcionam de forma adequada e segura e fornecem o volume apropriado do produto (Categoria II);
- Quando o doseador e o dispensador são reutilizáveis (Categoria II):
- Deve-se realizar a sua correta desmontagem e descontaminação antes da reposição do produto sem perder a funcionalidade de acordo com o procedimento definido a nível local;
- Não repor as embalagens sem a descontaminação prévia.
Devem ser disponibilizados aos profissionais de saúde com o objetivo de promover a integridade da pele:
- Informação sobre os cuidados para redução do risco de dermatites de contacto ou outros tipos de lesões da pele (Categoria IB);
- Cremes hidratantes para minimizar a ocorrência de dermatites de contacto associadas à Higiene das Mãos (Categoria IA);
- Produtos alternativos de Higiene das Mãos aos profissionais com alergias ou outras reações adversas aos produtos utilizados (Categoria II).
O coordenador local da Estratégia Multimodal de Precauções Básicas de Controlo de Infeção (Estratégia Multimodal PBCI) a qual inclui as cinco componentes da Estratégia Multimodal da Higiene das Mãos deve assegurar a formação de observadores e a monitorização da Higiene das Mãos, em articulação com os observadores, os gestores e o Grupo de Coordenação Local do PPCIRA (GCL-PPCIRA).
As unidades de saúde, através dos GCL-PPCIRA, devem designar profissionais de saúde com formação e treino em controlo de infeção e em observação da Higiene das Mãos com o objetivo de monitorizar a adesão dos profissionais de saúde, através do Formulário de Observação de Higiene das Mãos.
Formação sobre Higiene das Mãos (Anexo IV) (Categoria II):
- Os programas de formação dirigidos aos profissionais de saúde para a Higiene das Mãos devem integrar a Estratégia Multimodal PBCI para promoção da Higiene das Mãos e adesão às precauções básicas de controlo de infeção (categoria IA) e devem ter como enfoque:
- Cadeia epidemiológica da infeção, incluindo as etapas de transmissão dos agentes patogénicos, o tipo de cuidados passíveis de contaminação das mãos, o tipo de produtos para a Higiene das Mãos, as técnicas de Higiene das Mãos e os fatores que podem influenciar significativamente o comportamento dos profissionais, doentes e familiares/visitantes (Categoria II);
- Vantagens e desvantagens de métodos de Higiene das Mãos (Categoria II);
- Utilização de métodos lúdicos e elucidativos para motivar os profissionais para a Higiene das Mãos (categoria II);
- Monitorização da adesão dos profissionais de saúde à Higiene das Mãos e elaboração de relatórios (Categoria IA);
- Difusão de materiais promocionais como pequenos vídeos elaborados internamente, alusivos à Higiene das Mãos durante as sessões de formação e nos locais de trabalho;
- Envolvimento e participação de profissionais de saúde de referência na formação local (elos de ligação e dinamizadores) que valorizam a prática da Higiene das Mãos;
- Literacia em saúde: deve ser divulgada informação sobre Higiene das Mãos dirigida aos doentes e visitas nos vários locais públicos (entradas, salas de espera, refeitórios, cartazes, folhetos, vídeos em écrans, site da unidade de saúde e respetivas redes sociais).
Monitorização da Higiene das Mãos:
- Deve ser efetuada anualmente por todas as unidades de saúde, utilizando o Formulário para Observação da Higiene das Mãosl, através do Desafio Clean Care is Safer Care adotado pela Direção-Geral da Saúde, através do (Categoria IA);
- Cabe à unidade de saúde a divulgação dos resultados da avaliação da Higiene das Mãos aos profissionais de saúde (Categoria IA);
- Deve ser utilizada a aplicação informática de apoio à Estratégia Multimodal PBCI que permite gerar relatórios com base nos indicadores definidos para monitorização das taxas de adesão à Higiene das Mãos e consumo de SABA (Anexo V).
Qualquer exceção à presente Norma, deve ser fundamentada clinicamente, com registo no processo clínico.
O conteúdo da presente Norma será atualizado sempre que a evidência científica assim o determine.
A presente Norma revoga a Circular Normativa nº 13/DQS/DSD de 14/06/2010 “Orientação de Boa Prática para a Higiene das Mãos nas Unidades de Saúde”.